SUSTENTABILIDADE

Mato ou iguaria? PANCs geram renda e resgatam hábitos tradicionais

Na região da Vila da Mata, em Bertioga, as Plantas Alimentícias Não Convencionais, ou PANCs, agregam valor ao turismo comunitário

Mayumi Kitamura
Publicado em 24/10/2023, às 15h52

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Denise descobriu nas PANCs uma fonte extra de renda e compartilha conhecimento - Arquivo Pessoal/Denise Venites
Denise descobriu nas PANCs uma fonte extra de renda e compartilha conhecimento - Arquivo Pessoal/Denise Venites

Urtiga, trevo azedinha, dente de leão e flores de primavera (ou boungainville). Além de serem conhecidas e até comumente achadas, você sabia que pode adicioná-las ao seu cardápio? Longe das prateleiras dos mercados, as Plantas Alimentícias Não Convencionais, ou PANCs, são alternativas fáceis de cultivar e encontrar. Apesar de agregarem alto valor nutricional ainda são pouco conhecidas para o consumo e, às vezes, ignoradas até por preconceito.

Quem conhece o potencial destas plantas, sempre as inclui nas receitas e os preparos são saborosos a ponto de proporcionarem uma renda extra. Este é o caso da Pancs Vila da Mata, empreendimento idealizado por Denise Venites como um agregador ao turismo comunitário na Vila da Mata, área localizada dentro do Parque Estadual Restinga de Bertioga (Perb). Por meio dele, além de vender bolos, geleias, pães, sucos e muitos outros, ela também realiza oficinas sobre as PANCs, propagando o conhecimento e resgatando hábitos alimentares tradicionais.

Ela conta que seu interesse iniciou há três anos, época em que foram promovidos os cursos que estimularam o turismo na sua comunidade, por isso teve a ideia de incluir as PANCs nas visitações. "Comecei com torta de ora-pro-nobis e a estudar mais sobre as PANCs, fazendo um resgate - pois já eram utilizadas pelos nossos avós. A ideia foi, a princípio, degustações com algumas plantas que encontramos dentro da comunidade, mas acabou tendo outra proporção. Agora vendo em feiras e promovo oficinas", explicou.

Desde que iniciou seus estudos com as espécies encontradas na Vila da Mata, ela relata ter catalogado 50 plantas e que, por sermos contemplados com a Mata Atlântica, há facilidade de encontrar PANCs na região. À primeira vista, parece um número alto, mas a estimativa é de que existam aproximadamente 10 mil espécies de PANCs em todo o Brasil.

O preconceito e a valorização

Apesar da abundância, ainda há quem veja as PANCs com desdém. Denise comenta: "A falta de conhecimento ainda deixa as pessoas fechadas para essa opção". Com isso, perde-se uma preciosa fonte de alimentação. 

Segundo publicação da Embrapa, além das plantas pouco utilizadas, também se enquadram na categoria as espécies vegetais com uma ou mais partes alimentícias não corriqueiras, como as folhas de batata-doce ou o coração da bananeira.

Para estimular o uso e conhecimento sobre as PANCs, várias iniciativas e estudos têm sido realizados. Um deles é promovido pelo Núcleo de Extensão da USP sobre Alimentação Sustentável, o Sustentarea, onde é possível até baixar gratuitamente um livro de receitas com um capítulo dedicado a PANCs encontradas no Brasil.

Por falar em receitas, a de geléia de malvavisco (ou hibisco) da Denise Venites é uma das finalistas e pode ser publicada em um livro do Mesa Brasil, iniciativa do Sesc referência no combate à fome e ao desperdício, com distribuição de alimentos e ações educativas. 

Sobre essa receita, inclusive, ela comenta que quem prova acaba recordando a infância. "Quando elas descobrem que pelo simples hibisco - que é o malvavisco-, dá para fazer uma geleia deliciosa, elas ficam muito surpresas porque, além de ser algo fácil de se encontrar, pricipalmente aqui na Baixada Santista, são plantinhas que ninguém valoriza e são muito nutritivas. A reação das pessoas é de surpresa e faz um resgate afetivo", finaliza.

Mayumi Kitamura

Mayumi Kitamura

Jornalista formada na Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp - Guarujá) e técnica em Processamento de Dados. Atua na área de comunicação há mais de 20 anos.

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