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Trilha Cachoeira do Elefante em Bertioga. Vale a pena?

Vale muito, sim, fazer este passeio ambiental que tem paisagens impressionantes; no segundo semestre deste ano, uma nova trilha será inaugurada

Rebeca Freitas
Publicado em 14/03/2024, às 09h53

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Grupo de São José dos Campos em visita à cachoeira,  entre mais procuradas do estado - Rebeca Freitas
Grupo de São José dos Campos em visita à cachoeira, entre mais procuradas do estado - Rebeca Freitas

Que tal vivenciar a trilha que leva à cachoeira do Elefante, no Parque Estadual Serra do Mar (PESM) - Núcleo Bertioga? O acesso é feito pelo km 86 da rodovia Mogi-Bertioga. A experiência, logo de cara, já se mostra positiva, pois a vista a partir da rodovia é deslumbrante. A área conta com estacionamento e mirante e vale registros fotográficos pela bela paisagem, com vista para as cachoeiras do Elefante e Véu da Noiva, acima, imersas no verde intenso da Mata Atlântica.  

A caminhada para a cachoeira do Elefante segue em descida pelas escarpas da serra, em meio a árvores grandiosas e floresta ombrófila densa. São apenas 3km de trilha, mas as descidas íngremes no solo irregular fazem parecer mais, exigindo atenção dos trilheiros, além de calçado fechado, com boa sola [é comum que tênis sejam ‘assassinados’ durante a trilha]. 

tênis
Solo irregular e umidade exigem uso de tênis ou sapato resistente e fechado - Rebeca Freitas  

A trilha está em território histórico da antiga rota do comércio, na época do Brasil colonial, e que conectava a Baixada ao planalto paulista. O percurso é muito procurado por amantes da natureza e fotógrafos, como Beto Celli, de São Paulo. "Todo mês, costumo fazer alguma trilha ou viagem. Nunca tinha ouvido falar deste roteiro, então resolvi conhecer e fotografar bastante. A trilha é muito bonita, a mata muito bem preservada e a cachoeira é um espetáculo. Rendeu fotos boas", compartilha. 

Fotógrafo Beto Celli faz imagens da natureza - Rebeca Freitas
Bromélia está entre plantas nativas do bioma Mata Atlântica encontradas na trilha - Beto Celli
Como característica da trilha está sua inserção na floresta ombrófila densa - Beto Celli
Na trilha, é possível contemplar a origem do rio Itapanhaú, na confluência dos rios Guacá e Sertãozinho - Beto Celli

No trajeto, é utilizado um sistema de ancoragem, instalado durante a atividade pelos monitores ambientais  para atravessar o rio Itapanhaú, o mais extenso do litoral paulista. Os equipamentos de segurança são utilizados por causa da correnteza e consistem em uma corda amarrada em cada uma das margens do rio. Neste ponto, é possível contemplar a origem do Itapanhaú, na confluência dos rios Guacá e Sertãozinho. 

No trajeto, é utilizado sistema de ancoragem, instalado durante a atividade pelos monitores ambientais, para atravessar Rio Itapanhaú - Rebeca Freitas
Sistema de ancoragem sendo montado pelos monitores ambientais Kawan de Souza e Vitor Mayer - Rebeca Freitas
Equipamentos de segurança são utilizados por causa da correnteza - Beto Celli

Segundo a Fundação Florestal, a cachoeira do Elefante está entre as mais procuradas do estado. Ela é uma das mais imponentes da Serra do Mar paulista, por causa do grande volume de água de uma queda contínua, com mais de 60 metros de largura, formando uma “minicatarata”. Ao se aproximar, você fica molhado pela forte aspersão d’água gerada pelos ventos da Serra do Mar, fenômeno que se assemelha a uma garoa; é impossível não ficar molhado. Ela é ideal para quem gosta de contemplar a natureza, mas não para nadar, devido ao grande número de pedras.

Cachoeira do Elefante
Vista imponente da cachoeira do Elefante vale a trilha - Beto Celli

Mas quem gosta de nadar não ficará decepcionado. No retorno, é feita uma última parada no rio Guacá, que possui sua própria queda d’água, pequena, mas digna de desfrutar. O rio exige atenção pelas correntezas; em contrapartida, suas águas cristalinas permitem a visualização de peixes na água, com ajuda de óculos de mergulho. 

Rio Guacá
Parada para banho é feita no rio Guacá - Vitor Mayer

Dentre os animais visíveis, durante o passeio, estão rãs, calangos, insetos e, se você tiver sorte, macacos-prego. A visita também permite contato com flora nativa, como a ameaçada palmeira juçara, o imbiruçu com sua raiz tabular, além de plantas pré-históricas, como samambaia, da qual, por muito tempo, foi retirado o xaxim;  hoje, sua comercialização está proibida. Estes e outros detalhes são revelados com precisão pelo time de monitores bem treinados, que atendem ao PESM Bertioga. Outro detalhe curioso da travessia é a passagem por dentro de uma pequena caverna.

Dentre a fauna típica estão anfíbios como sapos - Vitor Mayer
Flora nativa da Mata Atlântica - Vitor Mayer
Monitor dá orientações aos visitantes - Vitor Mayer
Durante a visita é possível encontrar animais como o calango - Rebeca Freitas
Som da rã 'cantando' é um dos fundos musicais da trilha - Vitor Mayer
Trilha conta com paradas estratégicas para fotos - Rebeca Freitas

Como características da trilha, estão sua inserção na floresta ombrófila densa, com terrenos acidentados, aclives e declives, travessia de rio e riachos, além de ser trilha single track, ou seja, de mão única e estreita, na maior parte do percurso. O PESM Bertioga alerta que há possibilidade de árvores caídas ao longo do percurso. 

As descidas se tornam subidas íngremes, no retorno, o que exige fôlego e força nas pernas. O meato (passagem) é um revés para sedentários e pessoas com limitações físicas, pois é considerado de alto nível de dificuldade. O caminho de volta pode ser pelo mesmo trajeto de ida. O percurso dura cerca de 5h,  ida e volta, a depender do ritmo do grupo. Como retorno alternativo, há a possibilidade de adentrar as matas do Parque Estadual Restinga de Bertioga, pela trilha do Vale Verde, e continuar a caminhada rumo à planície litorânea, em um caminho que  margeia o rio Itapanhaú.

Orientações aos visitantes 

A visita com um guia capacitado torna a experiência mais segura. Segundo a monitora ambiental Clarissa Martins, realizar uma trilha sozinho apresenta riscos consideráveis. "Os perigos incluem se perder ao adentrar em áreas não autorizadas, encontrar animais silvestres e enfrentar riscos físicos, além de colocar os animais em perigo. Isso também cria riscos para nós, que teremos que entrar nessa área, para procurar a pessoa perdida. É uma operação complexa, pois estamos falando de regiões remotas", enfatiza.

Vale destacar que, entrar desacompanhado de monitor credenciado pela Fundação Florestal (FF) nas áreas protegidas, pode gerar multas. O órgão tem parceria com grupos como a Associação Bertioguense de Ecoturismo (Abeco), que oferece guias autônomos para as visitas. O preço médio cobrado é de R$ 80, mas o valor pode variar a depender do guia e do tamanho do grupo.  Reservas podem ser feitas pelo site.

A visita acontece em ambiente natural e extremamente preservado, onde a presença de animais nativos pode causar acidentes ou transtornos envolvendo mosquitos, carrapatos, lagartas, cobras e aranhas. A orientação é que os visitantes tenham cuidado ao pisar e segurar em árvores e rochas, mas, principalmente, que usem roupas adequadas para evitar problemas. 

O PESM Bertioga pede que se dê preferência a vestimentas claras e que cubram o corpo todo, para facilitar a identificação de qualquer coisa que fique presa à roupa. É recomendado evitar jeans, bermudas e regatas. O uso de tênis ou sapato resistente e fechado é indispensável. 

Todo aventureiro deve carregar seu kit de primeiros socorros, principalmente, quem faz uso de remédios controlados. Já a respeito da alimentação, são recomendados alimentos frescos como frutas, incluindo banana, maçã, laranja, e mexerica, além de sementes como a castanha e o amendoim. Barras de cereal e chocolate são ótimas opções para repor açúcares. 

Durante o trajeto, existe água potável disponível. Caso o visitante não se sinta seguro para consumir água dos rios e riachos, é orientado que ele leve a quantidade suficiente de acordo com sua necessidade para o dia, e que se hidrate bem dias antes da atividade.

Sugestões do que levar na mochila:

  • roupa extra protegida (para não molhar);
  • lanche;
  • água;
  • repelente;
  • toalha;
  • capa de chuva/jaqueta impermeável;
  • remédios (principalmente de uso controlado);
  • saco de lixo/sacolinha; 
  • capa impermeável para celular;
  • bolsa impermeável para guardar objetos eletrônicos.

Nova trilha na região

A Fundação Florestal tem previsão de inaugurar uma nova trilha no início do segundo semestre deste ano. O novo atrativo, a trilha do Rio das Pedras, fica localizada no alto da serra, na divisa entre os núcleos Bertioga e Padre Dória, do PESM. Esta nova opção para trilheiros e ecoturistas terá uma extensão total de 3km, em trecho que conta com ao menos três piscinas naturais e uma pequena queda d’água. O tempo total previsto para o percurso  é de até três horas. Porém, o visitante poderá escolher um dos roteiros abaixo, para incorporar à nova trilha, de acordo com sua disponibilidade de tempo e condicionamento físico:

  1. Roteiro que faz interligação com a trilha da cachoeira do Elefante (PESM-NB). Tem início na trilha do Rio das Pedras, passa pelas piscinas naturais e desce a serra até a cachoeira do Elefante, com retorno pela trilha do Rio das Pedras. Percurso de 12km, com duração média estimada de 7 horas.
  2. Roteiro com início no Rio das Pedras e ponto de partida no mirante do km 86 da rodovia Mogi-Bertioga. Passa pelas piscinas naturais e pela cachoeira do Elefante. Extensão total de 6,5km, com duração média de 6 horas.
  3. Descida até o Vale Verde. Nesse percurso, o visitante pode fazer a descida até o Vale Verde, contemplando os mesmos atrativos do roteiro anterior. A descida prossegue ao longo do rio Itapanhaú, passa pela Casa de Pedra e termina na portaria do Vale Verde. Extensão total de 13km, com duração estimada de 8 horas.

O principal local de acesso para a nova trilha será pelo km 81 da rodovia Mogi-Bertioga. O ponto de encontro para o início ou fim do percurso pode ser combinado com o monitor ambiental credenciado pela Fundação Florestal.

Conforme a FF, neste momento, estão sendo construídas pontes fixas com guarda-corpo e degraus com corrimão, além de obras de contenção de encostas. Além disso, a fundação tem uma agenda de incursões técnicas mensais programada para o desenvolvimento dos trabalhos de identificação, prevenção e mitigação de riscos. Na sequência, está prevista a capacitação para monitores ambientais autônomos credenciados pela instituição.

Rebeca Freitas

Rebeca Freitas

Formada pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp)

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