Barista conta que descobriu vocação por acaso; ele começou com uma garrafinha e inspira com café gourmet num dos pontos mais movimentados de Guarujá
Quando começou a vender café aos colegas durante um curso noturno pra complementar a renda e pagar os incessantes boletos, o hoje barista e modelo nas horas vagas Ruan Lizardo não imaginava que aquilo se tornaria seu projeto de vida.
“No começo, foi em maio do ano passado, tive a ideia de levar uma garrafinha de café e vender por dois reais, pra levantar uma grana, e vendeu bem. O pessoal sempre chegava meio cansado e vi que deu um up até no rendimento da classe, sabe? O pessoal começou a ir melhor nas matérias, daí eu percebi que tinha potencial pra crescer”, disse Ruan em entrevista ao Portal Costa Norte na quinta-feira (28), às vésperas do Dia Internacional do Café, celebrado no domingo (1º).
Pouco tempo depois da epifania, ele largou o curso, deixou a modelagem em segundo plano e saiu com a cara, a coragem e uma garrafinha cheia de café às ruas de Guarujá, onde mora. Boa praça e de riso fácil, logo cativou uma clientela fiel. São trabalhadores, em geral gente humilde, saindo para o trabalho ou voltando dele.
Hoje, pouco mais de um ano depois, o jovem de 26 anos continua sendo encontrado diariamente nas ruas da cidade vendendo café feito água para o mesmo público. A garrafinha térmica com que ele começou deu lugar a uma mini cafeteria móvel. O vendedor virou barista (especialista na preparação da bebida), vive disso e tem sede de mais.
Ruan afirma que trabalha entre 6 e 14 horas por dia, em dois turnos, dependendo do clima e do movimento. Começa nos horários de pico no início da manhã e da noite, na movimentada Praça 14 Bis e imediações, em Vicente de Carvalho, um dos bairros - legalmente um distrito - mais populosos de Guarujá.
No tempo livre, geralmente às tardes, o inquieto barista abastece o negócio e se desdobra num sem número de atividades. “Ah, eu faço muita coisa. Faço Jiu Jitsu, faço musculação, faço natação, modelo, dono de casa”, diz sorrindo. Ruan afirma que tem quatro inspirações: Deus, a namorada, a praça onde trabalha e, claro, o café.
Primeira coisa que eu faço no dia é orar. Depois, tomo café com a minha namorada. A minha futura esposa, eu tô correndo atrás pra casar com essa menina” - diz num tom de veneração entusiasmada.
Religioso, ele arrumou uma maneira de relacionar o ganha-pão com a fé. ”Eu sou cristão, né? Tem um versículo da bíblia que mexe muito comigo, Lucas 10:27, que é amar a Deus de todo o coração, de toda a alma, de toda a força e de todo o entendimento. Coração, Alma, Força e Entendimento: Café”.
Do local de trabalho, a Praça 14 bis, ele também tira lições. “Às vezes, almoço no Bom Prato, me deixa muito com o pé no chão. Mas, quando eu tô ali na 14 Bis, penso que meu café pode ser algo que vai inspirar as pessoas a começar suas ideias, a voarem, sabe? Igual com o Santos Dumont, que inventou o primeiro avião”, - confessa ele.
O jovem afirma que não se vê mais na área industrial, onde trabalhava antes e quer fazer do café seu 14 Bis pessoal, propulsionado pelo combustível da perseverança. “Tá fluindo. Não é só um cafezinho. É muito legal quando eu apresento um café gourmet, um café diferente. Quero construir uma rede de franquias baseada nisso. Quero construir algo sem passar a perna em ninguém. A perseverança está nisso: você achar e insistir no seu próprio caminho”, conclui, sorrindo.