Ameaça anônima em porta igreja de São Vicente insulta padre, fiéis e Deus. “Repugnante”, diz prefeitura - que promete providências; polícia investiga
Redação
Publicado em 08/09/2023, às 17h01
Uma igreja católica em São Vicente, no litoral de São Paulo, teve sua rotina de rezas e missas afetada por um cartaz com uma ameaça de bomba. Afixada sem que ninguém visse na porta da paróquia, a mensagem anônima também humilha o padre, insulta os fiéis e xinga de palavrões o Deus ali venerado.
Em entrevista nesta sexta-feira (8), um representante da igreja contou que os fiéis, sobretudo os mais idosos, estão com medo e que ninguém sabe qual a origem do cartaz. No entanto, sob condição de anonimato, uma funcionária e também fiel da igreja disse que, dias antes, uma suposta vizinha insatisfeita com a movimentação de um evento de jovens foi até o templo e reclamou com violência.
A prefeitura de São Vicente informou que o evento de jovens foi realizado dentro da legalidade e autorizado. O órgão também repudiou a ameaça e disse que aguarda ser notificado formalmente, mas que já têm providências no horizonte. A polícia civil investiga o caso.
O caso aconteceu ontem (7), na Igreja Nossa Senhora das Graças, a cerca de 1,5 km da região central de São Vicente. À reportagem, João Lima, um representante da paróquia, explica como o cartaz ameaçador apareceu.
“O padre acordou. Chegaram as meninas que limpam a igreja. Limparam a frente lá, limparam tudo. Entraram, fecharam a porta da igreja, que ontem foi feriado. Entre 8h e 9h, a menina foi abrir a porta novamente e tinha esse cartaz com essas ofensas a Deus, ao padre e aos fiéis da igreja”, relata João.
“Aos devotos desta igreja”, começa o cartaz herético. ‘Religião de filhos da puta e um ‘deus de merda’. Pelos fogos do último domingo iremos rogar uma praga em vocês. Devido a (sic) falta de respeito com os vizinhos desta igreja, daremos o troco na mesma moeda. Bombas serão jogadas aqui também. Seus cretinos nojentos hipócritas adoram uma bosta de ‘Deus’. Ao Padre Imbecil”.
As ameaças, explica João num tom revoltado, intimidaram parte dos fiéis. “Estão com medo porque foi uma ameaça à integridade física deles, uma ameaça a quem frequenta a igreja. Os fiéis, principalmente os mais idosos, estão receosos. Nunca sofremos uma ameaça dessas desde 1952 quando a igreja foi fundada, nunca tivemos esse tipo de ameaça”.
Na tarde do mesmo dia, representantes da igreja registraram um boletim de ocorrência. Na avaliação de João, o caso é de intolerância religiosa. “É uma coisa muito grave, é intolerância religiosa de uma forma que eu nunca tinha visto na minha vida. Esse tipo de ofensa não pode ficar impune. É uma ameaça de terrorismo, porque bombas, jogar bombas na igreja com os fiéis dentro da igreja, é uma coisa muito grave. Nunca se sabe quando a ameaça pode ser concretizada”.
No domingo (3), quatro dias antes do cartaz ameaçador surgir na porta da igreja, a paróquia realizou o Encontro de Jovens com Cristo. “É tradicional da igreja há mais de 10 anos. É uma festividade pra apresentar a igreja, uma festividade com uma missa campal, montada em palanque”, explicou uma fiel de 31 anos que trabalha na igreja e preferiu não ser identificada.
Procurada, a prefeitura de São Vicente explicou que o Encontro de Jovens com Cristo promovido pela igreja foi autorizado pela administração da cidade. “O evento seguiu os trâmites legais, sob supervisão das forças de segurança, não infringindo a lei municipal de perturbação de sossego".
Mesmo assim, houve quem ficasse insatisfeito com o evento, relata a funcionária. “No domingo, veio uma pessoa se dizendo vizinha daqui. Estava muito nervosa. Reclamou que não podia entrar na casa dela porque a rua estava lotada, reclamou do barulho, enfim, esse tipo de coisa”.
Na avaliação da fiel, cabe à polícia identificar a suposta vizinha e determinar se ela tem ou não relação com a ameaça. “Ela veio reclamar com violência e logo em seguida apareceu esse cartaz horroroso. Mas a gente não pode afirmar, né? Já foi pra polícia, a polícia vai investigar”.
Apesar de chocada com o cartaz, a fiel afirma que não deseja o mal de seja lá quem fez a ameaça. “Eu não posso desejar nada de ruim para essa pessoa. Eu só desejo que ela encontre paz no coração, porque é isso que a nossa igreja prega. Somos todos irmãos, independentemente da religião”.
Procurada, a SSP (Secretaria de Segurança Pública) disse que a polícia civil investiga o caso - registrado como ameaça no 1º DP da São Vicente. A prefeitura de São Vicente informou que ainda não foi notificada, mas que, preventivamente, vai intensificar os patrulhamentos da guarda municipal perto da igreja.
A gestão municipal da cidade acrescentou que “repudia veementemente todo e qualquer ato de intolerância religiosa” e que as pastas de Educação e Cultura têm promovido ações de combate à prática. O órgão também disse que vai promover uma audiência pública inter-religiosa, “para que todos os líderes da esfera religiosa apontem suas demandas e a cidade possa trabalhar, junto à sociedade civil, no combate à intolerância religiosa”.
Questionada, a Diocese de Santos não se manifestou. A prática de Intolerância religiosa é um crime federal com prevenção de multa e cadeia.
