FLAGRANTE CONTROVERSO

Prisão de funkeiro no litoral de SP foi forjada por policiais, alega defesa

Advogado declara que flagrante de MC por tráfico de drogas foi teatro repleto de ilegalidades e contradições. Familiar diz que ele é inocente e foi usado como bode expiatório. Secretaria de Segurança afirma que funkeiro “estava cumprindo regime aberto por tráfico de drogas” quando foi preso

Da redação
Publicado em 19/07/2023, às 09h13 - Atualizado às 10h59

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Supostamente com uma mochila repleta de drogas, funkeiro foi preso em flagrante no último dia 11. Defesa contesta legalidade da prisão Capa - Prisão de funkeiro no litoral de SP foi forjada por policiais, alega defesa Montagem com três fotos de homem sorri - Imagem: Acervo Pessoal / Marcelo Ferreira
Supostamente com uma mochila repleta de drogas, funkeiro foi preso em flagrante no último dia 11. Defesa contesta legalidade da prisão Capa - Prisão de funkeiro no litoral de SP foi forjada por policiais, alega defesa Montagem com três fotos de homem sorri - Imagem: Acervo Pessoal / Marcelo Ferreira

A defesa e familiares de Marcelo Ferreira, também conhecido como MC Tata e MC Paulinho Sem Capital, rechaçam a versão da PM de que o funkeiro de 32 anos foi flagrado com uma bolsa recheada de drogas em uma favela no litoral de SP. Dentre outras ilegalidades, eles acusam os policiais de forjarem a cena que levou à prisão do cantor por tráfico de drogas.  

“A versão policial de que ele foi preso na rua com uma mochila não é a verdade dos fatos”, disse, em entrevista, o advogado de defesa Guilherme Nunes.

Crislaine Ferreira, de 27 anos, dona de casa e irmã de Marcelo, protesta: “Pegaram ele e jogaram isso em cima dele. Os vizinhos viram que ele não estava com nada. Essa bolsa não estava com ele. Não estava. Eu tô completamente desolada”.

A reportagem perguntou à SSP (Secretaria de Segurança Pública) se o órgão sustenta a legalidade da prisão. A secretaria não respondeu, mas sugeriu reincidência alegando que Marcelo “estava cumprindo regime aberto por tráfico de drogas”. A defesa dele também contestou a alegação.

O que aconteceu

Há pouco mais de uma semana, Marcelo foi preso em flagrante por tráfico de drogas durante uma operação policial na favela do Dique do Piçarro, em São Vicente. No dia anterior à operação, dois policiais foram baleados em outra incursão na mesma comunidade.

Segundo o boletim de ocorrência ao qual a reportagem teve acesso, em poder de Marcelo foi encontrada uma mochila com cerca de 2 kg de maconha, cocaína e crack e que, durante a abordagem, ele teria  “confirmado [a] propriedade das drogas e alegado que é o responsável por gerenciar e abastecer o tráfico da área”.

No entanto, em depoimento registrado no 2º DP de São Vicente, Marcelo disse que desconhece a mochila com drogas e que foi agredido pelos policiais por se recusar a desbloquear seu celular.

Crislaine afirma que o irmão mora em uma comunidade vizinha e foi ao Dique do Piçarro gravar um vídeo quando resolveu parar na casa de uma amiga. “Ele com essa mania de querer gravar vídeo nas vielas, cantando música, como muito MC faz hoje em dia. A polícia chegou metendo o pé na porta, batendo nele, batendo nela [amiga de Marcelo]. A menina apanhou, apanhou, apanhou por nada. A menina está toda machucada”.

Flagrante forjado, ilegalidades e contradições, acusa defesa

Além de afirmar que o flagrante foi forjado, a defesa do funkeiro diz que a prisão dele está repleta de contradições e ilegalidades. “A polícia penetrou [na casa] sem autorização da moradora e sem ordem judicial. Consta nos autos que Marcelo foi preso na rua após correr da polícia em atitude suspeita, mas testemunhas relatam que viram a polícia tirando ele de dentro de uma casa”, argumenta o advogado.

Para a irmã de Marcelo, ele serviu como bode expiatório pela operação que terminou com policiais baleados na mesma favela no dia anterior. “Eu acredito que eles tenham feito isso para arrumar um culpado pelas tentativas que teve com os policiais” (sic).

A advogado disse que vai comprovar a inocência do funkeiro. “Esse é o clássico exemplo de crime forjado. Os motivos do porquê isso ocorreu ainda não são claros, mas serão investigados. Para a defesa, resta claro que o pleito do Estado de prender aqueles que atiraram contra a força policial é legítimo, porém a operação não pode ocorrer ao arrepio da Constituição Federal com violação de direitos e truculência contra os moradores”.

O que diz a SSP

A reportagem perguntou à SSP quais as justificativas da operação na favela, se os policiais entraram na residência sem autorização judicial e se o flagrante foi forjado. O órgão não respondeu e disse, por meio de nota, que, quando foi preso, Marcelo “estava cumprindo regime aberto por tráfico de drogas” e que “as corregedorias das polícias Civil e Militar estão à disposição para formalização da denúncia”.

A defesa do funkeiro reconheceu que Marcelo teve uma condenação por tráfico, mas alegou que a pena "terminou". “Ele cumpriu o regime aberto dentro da lei e atualmente não deve nada à Justiça”, explicou o advogado, que completou:

“Infelizmente, o Estado em geral tem dificuldade em acreditar na ressocialização dos egressos [do sistema prisional], tanto é que mesmo em uma abordagem inicial aquele que tem antecedentes é tratado de uma forma e quem não tem de outra, independentemente de quanto tempo faz que aquela pessoa errou, e se de lá para cá ela arrumou sua vida”.

Após uma audiência de custódia que determinou sua prisão preventiva, Marcelo continua preso no CDP (Centro de Detenção Provisória) de São Vicente. A reportagem segue acompanhando o caso. 

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