EXEMPLO DE CIDADANIA

Aos 91 anos, ele recolhe lixo enquanto caminha pela praia do Itaguá, em Ubatuba

Advogado aposentado, Djalma une o útil ao agradável e exerce ação exemplar, que chama atenção de turistas que passam pela orla

Estéfani Braz
Publicado em 07/05/2024, às 18h30 - Atualizado em 08/05/2024, às 10h28

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Armado com carrinho, pá, balde e galochas, Djalma Guimarães caminha diariamente e recolhe lixo da areia - Estéfani Braz
Armado com carrinho, pá, balde e galochas, Djalma Guimarães caminha diariamente e recolhe lixo da areia - Estéfani Braz

Um simpático senhor de 91 anos caminha diariamente pela bela praia do Itaguá, em Ubatuba, no litoral norte de São Paulo. Por si só, ele tavez não chamasse a atenção, mas, os apetrechos que carrega  têm uma função civilizatória, que demonstra todo o seu amor pela natureza que o abriga. Com seu carrinho, um balde e uma pá, recolhe objetos deixados na areia. Essa é a rotina de fim de tarde do advogado aposentado Djalma Guimarães, que também se vale de galochas, para se proteger da maré.

Com uma vitalidade de dar inveja e, em meio a tantas opções oferecidas pela orla do Itaguá, a atitude não passa despercebida pelos turistas, muitos dos quais oferecem palavras de carinho pela ação.

Djalmar Guimarães

Natural de Luz, em Minas Gerais, Guimarães cresceu em Divinópolis, também no estado mineiro, onde casou e teve dois filhos. Atuou no setor público como vereador, secretário e, depois, como chefe de gabinete. Há seis anos, tirou férias e nunca mais retornou ao cargo. Pediu exoneração.

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A solicitação, negada no início, precisou ser oficializada, porque Guimarães estava decidido a não retornar. “Eu cheguei aqui e fui morar na Praia Grande. Fiquei um ano, aproximadamente, e depois me mudei para este bairro aqui, que eu gosto muito. É um bairro muito bonito. Tem essa baía que é linda”. 

Com a residência estabelecida, Djalma começou a fazer caminhadas pela orla da praia, cuja sujeira na areia começou a incomodá-lo. Inicialmente, ele teve a ideia de levar sacolas de supermercado para recolher os resíduos, jogados, depois, nas lixeiras. Mas, esse trabalho gerava um certo desgaste físico ao advogado. A solução, então, foi comprar um carrinho, uma pá e um balde.

Esse carrinho me ajudou bastante. Primeiro, porque eu não preciso pegar no lixo. Eu tenho a pazinha. Eu pego a pazinha, chego no lixinho e empurro com pé e levo para dentro do balde. Então, me facilitou muito”. 

O calçado também precisou ser adaptado. No começo, o advogado aposentado utilizava um tênis, que estragava muito rápido, por causa da água, e foi trocado por uma botina de segurança. Tudo pensado para executar, bem, sua nova atividade. Djalma Guimarães foca no recolhimento de pequenos pedaços de plásticos, bitucas de cigarro, além de outros materiais que causam a poluição do mar e afetam a flora e a fauna marinhas. 

O gesto simples, mas um exemplo de cidadania, é realizado há mais de quatro anos e impressiona muitos turistas que passam pelo local. Mas, foi a fala de um garoto de doze anos que o marcou. “Ele me chamou. Eu esperei, ele chegou e disse, 'eu vim aqui, eu quero agradecer o senhor por esse trabalho que o senhor faz. Esse trabalho o senhor está cuidando da minha geração. Eu quero dar os parabéns ao senhor'. Eu fiquei assim um pouco extasiado, porque, dos adultos, eu estou acostumado a eles me aplaudirem, eles falarem parabéns”. A resposta dada ao garoto foi de agradecimento pelo reconhecimento, e, também, de incentivo por reconhecer a importância de um trabalho tão simples, “feito com muita satisfação” nas palavras do advogado. 

Sua caminhada diária faz bem para a sua saúde física e mental, até por estar consciente de que este trabalho vai além da limpeza do local; ele ajuda a natureza. Sentiu-se mais comprometido, após saber o quanto o plástico faz mal à fauna marinha; ficou particularmente tocado, quando soube de uma baleia  encontrada morta com grande quantidade de plásticos ingeridos. Para os jovens, o conselho é um só: “Que eles sejam melhor informados que nós éramos, porque, hoje, também é muito fácil esse meio de comunicação, mas que precisa cuidar muito do mar, precisa. O mar não produz lixo, e, de vez em quando, ele traz tanto lixo para cá”. 

Sobre o tempo que ainda pretende fazer este trabalho, Djalma é categórico. “Essa resposta é só o meu Deus que vai poder me dar, porque, enquanto Ele me der vida, saúde, boa disposição, porque hoje eu já tenho 91 anos, então eu não sei quanto tempo mais eu tenho nas mãos de meu Deus, para poder me sustentar fazendo essa obra. Mas, enquanto ele me permitir, eu vou estar aqui fazendo”.

A natureza e os bons cidadadãos agradecem seu trabalho, e que ele sirva de incentivo para todos. 

Estéfani Braz

Estéfani Braz

Formada em Comunicação Social na Faculdades Integradas Teresa D'Ávila

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