Cultura

Clarissa Pinkola Estés: a autora que mistura questões femininas, psicologia e natureza

De origem indígena e mexicana, a autora foi adotada por húngaros, ainda pequena, e se especializou em tratamentos pós-traumáticos como psicóloga. Origem cosmopolita e profunda interação com dores humanas são a base do trabalho dela

Henrique Gear SEO
Publicado em 27/07/2020, às 11h35 - Atualizado em 24/08/2020, às 08h24

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Reprodução/Internet
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Em meados do século XIX, o nascimento da área de conhecimento da Psicologia trouxe questionamentos e investigações acerca dos fenômenos referentes à mente humana, com impactos nos comportamentos e na saúde física dos indivíduos. No século seguinte, o trabalho realizado por Freud quebra a crença de que os humanos têm absoluto controle sobre si mesmos, o que gerou abalos na sociedade da época.

Outro nome que se destacou no século passado foi o do psiquiatra suíço Carl Gustav Jung. Inicialmente seguidor e até amigo próximo de Freud, Jung começou a trilhar o próprio caminho ao discordar de algumas concepções básicas da Psicanálise freudiana, fundando a Psicologia Analítica. 

Jung inovou a história da Psicologia ao trazer conceitos como o arquétipo, os complexos e o inconsciente coletivo, envolvendo outras áreas como Filosofia, Arqueologia, Antropologia e até a Teologia — repudiada pelo cientificismo da época. Jung foi um investigador importante de mecanismos que fortalecem o e permitem a cada pessoa desenvolver o seu potencial.

O trabalho de Jung deixou inúmeros seguidores e permanece conhecido em muitas universidades. Até hoje, seus conceitos e questões levantam perguntas essenciais sobre o desenvolvimento de cada indivíduo rumo a si mesmo. Uma dessas seguidoras, que uniu conceitos junguianos aos saberes ancestrais, vinculados a diferentes culturas antigas, é Clarissa Pinkola Estés.

Biografia

A escritora nasceu nos Estados Unidos, em 1945, em uma pequena vila no estado de Indiana. Filha de Cepción Ixtiz e Emílio Maria Reyés, nativa indígena e mexicano, Clarissa Pinkola Estés traz, desde o nascimento, o cosmopolitismo de diferentes culturas e visões de mundo. Ela aprendeu a falar espanhol em casa e, ainda pequena, foi adotada por um casal de imigrantes húngaros.

A origem multicultural e o crescimento com imigrantes permitiu à Clarissa o acesso a inúmeras lendas, mitos e histórias de diferentes povos. Após terminar o ensino médio, a escritora mudou-se para o Colorado, onde se formou em Psicologia e Psicoterapia.

Em Cincinatti, obteve seu doutorado em Psicologia Étnico-Clínica, com foco na história indígena e nos padrões psicológicos e sociais de diferentes culturas tribais. Influenciada por Carl Jung, a psicanalista buscou os saberes contidos no inconsciente coletivo que interligavam a espécie humana.

Além disso, ela se especializou em recuperação pós-traumática a partir da prática clínica e começou a trabalhar em um hospital de veteranos, onde atendeu pacientes que foram para a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, além de ex-combatentes da Guerra do Vietnã. 

Ela também usou da escrita criativa para ministrar aulas em diferentes prisões nos Estados Unidos e atuou em locais que sofreram desastres naturais, onde desenvolveu um protocolo pós-trauma para sobreviventes de um terremoto na Armênia — documento que foi traduzido para inúmeros idiomas. Clarissa Pinkola Estés ainda atuou na comunidade após o massacre de Columbine, em 1993.

Reconhecimento mundial

Se a carreira de Clarissa já era reconhecida em diferentes lugares, a explosão de seu nome ocorreu em 1992, com a publicação da obra Mulheres que correm com os lobos: mitos e histórias do arquétipo da mulher selvagem. Apesar de ter começado a escrever com 25 anos, a psicóloga só viu o seu primeiro livro publicado aos 50.

Seu nome começou a ser reconhecido após o início do seu trabalho na rádio, em 1989. Na ocasião, ela entrevistava ninguém menos do que Jung, o que levou uma gravadora a lançar fitas cassete com suas orientações, sucesso de vendas. Foi a partir desse trabalho que editoras procuraram a psicóloga e fizeram ofertas sobre o seu primeiro livro.

O best-seller, que ficou por 70 semanas entre os mais vendidos do jornal The New York Times, reúne histórias e lendas de diferentes culturas, fazendo uma profunda análise psicológica sobre alguns componentes da natureza feminina indomável: a importância da mulher se reconectar com a sua força, seus desejos e instintos adormecidos, a fim de desenvolver os seus dons e viver uma vida com sentido.

Além de psicóloga, Clarissa Pinkola Estés era poeta e contadora de histórias, o que faz a narrativa ser bem conduzida, com uma mistura de generosidade, sabedoria e espiritualidade. 

O livro tornou-se popular entre grupos femininos, que compartilham a leitura e buscam mais informações sobre os mitos trazidos pela autora. Ao auxiliar mulheres a reconhecerem as próprias feridas emocionais com coragem, o exemplar as ajuda a valorizarem a própria história e se fortalecerem conjuntamente.

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