O que é pobreza menstrual?

Problema atinge meninas e mulheres em escala global, impactando o desempenho escolar e trazendo riscos de infecção para a saúde delas

Henrique
Publicado em 08/10/2020, às 10h20

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Pixabay
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Embora seja um processo orgânico, que acompanha as mulheres desde os primórdios da espécie humana, a menstruação ainda é um tema socialmente negligenciado. Trata-se de um silêncio que pode afetar a autoestima e até o desempenho escolar das mulheres desde cedo.

O corpo da mulher passa por diversas mudanças no período menstrual, como o aumento da produção de hormônios, a exemplo do estrógeno e do progesterona, e de sensações como maior sensibilidade nos seios, inchaço e cansaço.

Além de combater os mitos existentes sobre a menstruação, os movimentos feministas vêm trazendo um novo conceito para o debate público: o de pobreza menstrual, que se refere à falta de acesso aos produtos voltados para a menstruação. Esse problema acontece com mulheres de todos os países, especialmente, entre aquelas em situação de vulnerabilidade social, vivendo no sistema carcerário.

Somente em 2014, o direito à higiene menstrual foi reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) como uma questão de saúde pública e de direitos humanos. A pobreza menstrual faz com que, pelo menos, uma em cada dez meninas percam aulas quando estão menstruadas, segundo estimativas da ONU.

Estatísticas

A situação é mais delicada em países marcados por enorme desigualdade social. Na Índia, estima-se que 23% das meninas param de frequentar a escola quando menstruam. 

Enquanto 50% das meninas no Quênia não têm acesso aos produtos de higiene pessoal, esse índice, em 2018, era de 22% no Brasil, entre meninas de 12 e 14 anos, subindo para 27% em jovens com idade entre 15 e 17 anos. No Reino Unido, esse índice chega a 10%.

No Brasil, outro fator agrava ainda mais esse cenário de pobreza menstrual: a falta de saneamento básico, que afeta 48% da população e é ainda mais frequente entre a população negra. Segundo dados do DataSUS, entre 1996 a 2014, 97.897 pessoas negras morreram devido às Doenças Relacionadas ao Saneamento Ambiental Inadequado (DRSAI). 

Alternativas inseguras

Na falta do acesso aos produtos específicos para a menstruação, pedaços de pano, papelão, papel higiênico e até miolo de pão são alguns exemplos de materiais inadequados e inseguros usados pelas mulheres durante o ciclo menstrual. No Reino Unido, 19% das meninas afirmaram já ter recorrido a tais soluções durante o período menstrual.

Vale notar que as mulheres em situação de encarceramento recebem um máximo de oito absorventes menstruais por mês, uma quantidade insuficiente quando se pensa que eles não devem ser usados por mais de seis horas, dependendo do fluxo menstrual e da sua duração. 

Isso ocorre mesmo havendo a Lei de Execução Penal, que prevê ao Estado o dever de garantir acesso à saúde integral às pessoas encarceradas, a partir de atendimentos médicos, farmacêuticos e odontológicos, além de disponibilidade de itens de higiene básica.

A falta de acesso a esses itens por meninas em situação de vulnerabilidade social motivou a educadora e diretora Edicleia Pereira Dicas a instalar um banco de absorventes na Escola Municipal Cosme de Farias, no município baiano de Camaçari. A iniciativa motivou a deputada Tábata Amaral a propor o projeto de lei nº 428/2020, que prevê a distribuição de absorventes higiênicos em locais públicos.

Além de impactar o desempenho escolar das estudantes, que faltam às aulas quando menstruam, especialmente, quando o banheiro da escola não apresenta boas condições de higiene, essa falta de acesso traz problemas de saúde às mulheres, já que miolos de pão, trapos e papéis aumentam o risco de infecções urinárias e vaginais.

Soluções possíveis

Já que se trata de um problema que afeta populações em escala global, organizações de saúde e governos de cada país precisam reconhecer a pobreza menstrual como uma questão de saúde pública, promovendo leis e iniciativas para permitir o acesso a esses produtos para mulheres que não podem comprá-los. Nesse sentido, cobrar ações do poder público é fundamental.

Na esfera individual, procure organizações que trabalhem com essa temática e faça doações — desses produtos ou de dinheiro. Também vale organizar pontos de coleta de absorventes nos espaços onde você circula, como escola, faculdade e trabalho, procurando associações de bairro. Ainda vale buscar diferentes tipos de produtos, que impactem menos o meio ambiente, como os coletores menstruais.

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