Youtubers divulgam ciência para ensinar de forma divertida

EBC Educação
Publicado em 20/03/2021, às 13h46 - Atualizado às 13h46

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Youtubers divulgam ciência para ensinar de forma divertida - © Divulgação
Youtubers divulgam ciência para ensinar de forma divertida - © Divulgação

Jovens, conectados e divertidos. Assim são os novos astrônomos e astrônomas que, por diversos canais do YouTube, divulgam ciência e astronomia. Um desses canais, o AstroTubers reúne pesquisadores e profissionais da área astronômica na produção de vídeos na plataforma. O objetivo do canal é tornar acessível ao público, com linguagem fácil de entender, pesquisas e outros estudos acadêmicos sobre física e astronomia, além de esclarecer notícias falsas que circulam na internet.

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Entre os estudantes há graduandos e pós-graduandos de física e de astronomia de diversas universidades do Brasil e até fora do país. Um deles é o Pedro Pinheiro Cabral, de Natal (RN), é estudante do bacharelado em Física na Universidade Federal do Rio Grande do Norte e tem 22 anos. Um dos seus vídeos no canal é Por que o céu é azul e as nuvens brancas?

Para ele, o papel de qualquer divulgadora ou divulgador científico é de enriquecer os conhecimentos científicos daqueles que consomem o conteúdo, de maneira que também os estimulem a consumir cada vez mais material desse tipo. “Mas, não basta apenas que o consumidor de divulgação científica descubra as “curiosidades” da ciência, é preciso também que ele compreenda como a ciência funciona e desenvolva um raciocínio crítico que é valioso na sociedade contemporânea”, afirma.

Na opinião do estudante, o Brasil tem entraves para que as pessoas aprendam mais sobre ciência. “A situação é que, nas salas de aula, os professores precisam preparar os alunos para o ENEM; não podemos contar também apenas com livros de divulgação científica, tendo em vista que apenas uma minoria da nossa população lê livros com frequência; na televisão aberta brasileira então o espaço para divulgação científica é mínimo e não parece aumentar. Resta então como objetivo para a divulgação científica pelo YouTube suprir todo ou boa parte deste vácuo que existe pelo menos para a parte da população já incluída digitalmente, já que no YouTube se consegue publicar conteúdos que engajem as pessoas, produzidos a baixos custos e de fácil acesso para todos os que tem internet”. 

Em seus vídeos, Pedro usa recursos visuais para facilitar o entendimento sempre que possível e não usa jargões “para não assustar ninguém”, diz. “Busco usar analogias que conectem o que eu explico a algo mais do senso comum, e assim vou tentando quebrar em pedacinhos algum conhecimento científico, de maneira que o meu público-alvo consiga compreender. Em outros vídeos tento usar o humor, enfim, estratégias para cativar o espectador e fazê-lo se interessar mais por ciência e entendê-la melhor em toda a sua beleza”.

Pedro conta que no AstroTubers tem uma etapa que é muito importante. “Como somos dezenas de membros acadêmicos de Física e Astronomia espalhados pelo país, temos internamente uma comissão de revisão formada por alguns dos nossos membros que sempre leem os roteiros, corrigindo eventuais erros e sugerindo melhorias antes que o vídeo seja gravado e torne a correção ou melhoria mais difícil”.

Colega de canal de Pedro, Karolina Garcia é mestra em Astronomia e doutoranda na Universidade da Florida (EUA), onde também trabalha. Ela é mineira, mas morou a maior parte da vida no Rio de Janeiro, onde fez Engenharia na PUC-Rio e mestrado em Astronomia na universidade federal do estado. Um de seus vídeos no canal é Por que as estrelas brilham? 

Na opinião dela, os canais que fazem divulgação científica no YouTube têm o papel de aproximar a ciência do público em geral de uma forma que as pessoas tenham gosto por aprender.

“O AstroTubers, no entanto, vai além, porque seu papel não é só o de informar sobre ciência, mas também de trazer as pessoas para perto do que é o nosso trabalho diário como astrônomos/físicos. Além de divulgadores, nós somos cientistas, e isso nos permite mostrar ao público não só o resultado de um experimento ou estudo, mas como ele foi feito, como o método científico foi aplicado, que tipos de questionamentos podemos fazer acerca dele etc. Usamos o AstroTubers para mostrar que existe muita pesquisa no Brasil”.  

Para ela, o que ajuda no interesse é que o tópico principal é Astronomia. “É difícil encontrar alguém que não se encante com o céu, ou que tenha curiosidade sobre os mistérios do universo. O desafio está em unir essa paixão que o nosso público tem pela Astronomia com a ciência que há por trás de cada assunto/descoberta, de uma forma que seja leve e descontraída”.

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Astrônoma Karolina Garcia e estudante de física Pedro Pinheiro produzem vídeos divertidos para divulgar ciência - Divulgação

Mas, apresentar assuntos complexos em vídeos de poucos minutos é um desafio, aponta a pesquisadora. “É um desafio diário encontrar um equilíbrio entre o tempo de vídeo, a densidade de conteúdo e a maneira de apresentá-lo. Eu diria que o segredo está em dividir certos assuntos em partes menores, para que o conteúdo em um vídeo só não fique tão denso e que possamos focar em passar esse conteúdo de forma didática e prazerosa. Dessa forma, conseguimos apresentar todos os tópicos que achamos importante, e o público tem a oportunidade de rever outros vídeos da série quando quiser!”, detalha.

Responsabilidade na divulgação científica

O estudante de física Pedro defende que um formador de opinião na área científica precisa sempre ter muita responsabilidade com o que diz. “Qualquer falha acidental pode acabar sendo amplificada por pessoas às vezes mal-intencionadas e se tornar mais uma fake news. Às vezes nem é uma falha, mas sim uma fala tirada do contexto.. Então essa responsabilidade ao meu ver precisa ser redobrada. É muito confuso para o público leigo ver duas pessoas com uma mesma especialidade divulgando informações contraditórias, como por exemplo vimos infectologistas divulgando informações a favor e contra supostos tratamentos precoces da covid-19”. 

Com isso, Pedro completa, “mesmo que para cada 100 infectologistas com uma argumentação exista apenas um com argumentação oposta, as pessoas acabam apenas escolhendo confiar naquele profissional que valida a sua opinião ou visão prévia e ignorando os demais. Mas, na ciência nós não podemos ser guiados por opiniões, precisamos ser guiados por evidências, por dados obtidos de maneira honesta e estatisticamente significantes, para que não tenha um risco significante de ter sido um mero produto do acaso. Então a importância do trabalho neste sentido é buscar desenvolver este raciocínio crítico da maneira de pensar que é a ciência nas pessoas”, frisou. 

Karolina completa que tem se tornado cada vez mais difícil filtrar o que é conteúdo de qualidade e o que não é. “Por isso a necessidade de canais que não só divulgam informações científicas, mas que explicam o que há por trás de cada conclusão. Mais importante do que informar, é desenvolver o pensamento crítico nas pessoas, para que elas consigam filtrar por si só os conteúdos que consomem. É isso que tentamos fazer no AstroTubers: mostrar que não há uma verdade absoluta na ciência (que está em constante evolução), mas que toda conclusão científica se baseia em hipóteses e deve possuir evidências que foram testadas. Nós combatemos as fake news ensinando diariamente o que é ciência e como nós fazemos ciência .“

Além da astronomia

Mas, nem só os cientistas e astrônomos divulgam a ciência. Formada em administração, Mariana Fulfaro e o marido Iberê Thenório, jornalista e apresentador, contam que o  canal do Manual do Mundo  surgiu da ideia de ensinar as pessoas a fazerem as coisas em casa. 

“Quando a gente veio de Piedade [cidade no interior do estado de São Paulo) para São Paulo e vimos que as pessoas acionavam o seguro para trocar pneus do carro e fazer pequenos consertos em casa. Em Piedade, todo mundo sabia fazer isso e ficamos impressionados com essa coisa de chamar alguém pra fazer. Além disso, nós juntamos uma série de habilidades que a gente já tinha: jornalismo, programação e criação de conteúdo para internet. Quando o YouTube começou a bombar, lá por 2008, a gente viu que muitas pessoas estavam ensinando coisas bacanas para fazer em casa. Resolvemos criar o nosso canal para ensinar também. Os 50 primeiros vídeos  foram feitos com câmeras emprestadas e gravados no nosso apartamento de 35m², relembra Mariana, que é a diretora executiva do canal e também apresentadora. 

Atualmente, a Manual do Mundo Produções é uma das maiores produtoras de entretenimento educativo do país e tem mais de 18 milhões de seguidores em suas redes digitais, tendo acumulado mais de 2 bilhões de visualizações só em seu canal no YouTube.

Para produzir o conteúdo interessante sem abrir mão da consistência, o casal diz que trabalha diariamente em pesquisa e produção. “Temos uma equipe com consultores científicos, produtores, jornalistas. Isso nos ajuda a monitorar o que está acontecendo e o que está chamando a atenção das pessoas na internet e fora dela”. 

O canal ainda tem uma comunidade engajada que manda sugestões e  ajuda até a conseguir materiais para os vídeos. “Um exemplo disso é o vídeo em que abrimos um cofre, que ainda irá ao ar no canal. O Iberê estava atrás de um cofre antigo há tempos e, depois de um post no Twitter, um seguidor doou um que estava trancado há 35 anos sem nem saber o que tinha dentro”, conta Mariana. 

Na opinião dela, o canal é importante em uma época com grande circulação de informações falsas. “A ciência é a principal arma que temos para combater as informações falsas. Se as pessoas sentirem que ciência é algo divertido e útil, conseguimos dar um suporte e ajudar, especialmente em uma época de pandemia. Um exemplo, é o vídeo em que explicamos os perigos de tentar fazer álcool gel em casa , na época em que receitas com gelatina estavam circulando nas redes sociais”.

Apresentar assuntos complexos em vídeos curtos é um dos desafios do canal, por isso Mariana diz que sempre tenta atrelar o conhecimento com a realidade. “Consideramos que a nossa maior especialidade é conseguir mostrar o conceito na prática e isso ajuda a deixar os assuntos menos complexos. Fizemos isso, por exemplo, no vídeo sobre como funciona um formigueiro , em que pegamos uma Içá e tentamos realmente criar um formigueiro. Foram mais de 70 dias para produzir este material e, mesmo que não tenha dado certo, nós mostramos a formiga rainha”. 

Mariana acredita que os canais do YouTube conseguem disseminar e ampliar o acesso às informações científicas, mas é necessários descontração. “Por exemplo, o vídeo em que ensinamos como destilar água do mar usando uma fogueira começa com o Iberê [apresentador do canal] todo sujo, dando a entender que estava perdido em uma ilha deserta. Além de ensinar de um jeito divertido como fazer o processo de destilação, também falamos porque não se deve beber água do mar e explicamos, com uma linguagem simples, o conceito de osmose. Se tivéssemos começado de cara com o conceito, provavelmente, não chamaria a atenção do público”, finaliza.

Edição: Claudia Felczak

Fonte: EBC Educação

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