“Quando o bonde parava na vila, todos corriam para a janela, para ver quem estava chegando”
A frase é do pintor bertioguense Sandro Bueno Justo e retrata uma das doces lembranças de infância que ele irá perpetuar em tela, em homenagem aos 100 anos de Itatinga. O quadro fará parte de uma exposição especial (local ainda não definido), em outubro, com telas de sua autoria, todos com imagens da antiga vila e da usina.
O primeiro quadro do artista com essa temática foi a capela Nossa Senhora da Conceição Aparecida, padroeira de Itatinga, que ele retratou quando tinha apenas 12 anos de idade. Sandro nunca mais parou de pintar a vila.
A usina, o bonde, as cachoeiras, casas... Toda a beleza da antiga vila inglesa, pelos olhos de quem passou a infância correndo por suas matas. “Já perdi as contas de quantos quadros já pintei com esse tema. Pinto o meu passado, a minha gente”, diz.
O artista viveu na vila até os 12 anos,depois se mudou, por problemas de saúde. Sua família tem forte ligação com o lugar. O bisavô, o avô e o pai, Ademir Ramos Justos, foram funcionários da usina.
Mesmo depois de ir morar em Santos,Sandro lembra que todos os finais de semana, a família voltava à vila para passear e rever parentes e amigos. Foi assim durante toda a infância e juventude. “Acabei fixando moradia em Bertioga quando passei no primeiro concurso público, em 1993”.
Sandro é só emoção ao falar de Itatinga. “Lembro de quando as calçadas eram lavadas com escovão, ficava tudo brilhando. As festas, os bailes, a convivência das pessoas, era tudo muito bonito”, conta.
A arte figurativa mostra bem os sentimentos do artista. “Na tela o passado fica para sempre. Sigo a filosofia de Benedicto Calixto, de deixar uma marca de sua época, um legado para a pintura”.
O pintor não se esquece de uma frase de seu avô, ao acordar pela manhã e ver,na sala, um dos quadros que ele (Sandro)havia finalizado durante à noite: “Andei muitos quilômetros para chegar num lugar, construir família e ganhar um neto que me levou de volta para o passado”. O quadro tinha a imagem de um dos carros--chefes do artista, o bonde e a Maria fumaça. “Eles são um símbolo de trabalho,de força, uma ligação muito forte com o meu avô”, ressalta o artista.
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