Comércio

Quiosques cobram até R$ 150 pela ocupação de mesas e cadeiras em Ubatuba

Novo "negócio" nas praias visa frequentadores que transportam caixas térmicas

Reginaldo Pupo
Publicado em 19/09/2018, às 12h54 - Atualizado em 23/08/2020, às 17h27

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Reginaldo Pupo
Reginaldo Pupo

Turistas que frequentam as praias de Ubatuba vêm sendo surpreendidos com a cobrança de uma espécie de “caução”, cujos valores variam de R$ 100,00 a R$ 150,00, para ocupar mesas e cadeiras, em quiosques de algumas praias. Os proprietários e funcionários desses estabelecimentos visam frequentadores que transportam caixas térmicas. Diante da recusa do pagamento, os turistas são “convidados” a se retirar. 

Foi o que aconteceu com a secretária executiva Lilian Viana Santos, 39 anos, que reside em Andradas (MG). Acompanhada pelo marido e duas filhas, de 10 e 15 anos, afirmou que se dirigiu ao Kiosk Pantai, localizado na Praia Grande, uma das mais frequentadas do município, com uma caixa térmica que continha bebidas. “Assim que ocupamos uma mesa de plástico, um garçom chegou e disse que teríamos que efetuar um adiantamento de R$ 150,00, para que pudéssemos continuar ali. Eu e meu marido informamos ao atendente que iríamos consumir no local. Como resposta, ele disse que teríamos que consumir o valor total e que o pagamento teria que ser adiantado”, afirmou Lilian. Segundo ela, diante da recusa do pagamento, o garçom os “convidou” a desocupar o lugar. “Isso aconteceu na frente de muitas pessoas. Foi muito humilhante e constrangedor”, lamentou.

O promotor de vendas Maurício Alvarenga, 31, disse que estava com sua namorada no quiosque Baguari, também na Praia Grande, quando foi abordado pelo garçom, que o informou sobre a necessidade de pagar antecipadamente um valor de R$ 100,00, para permanecer no local. Ele também portava uma caixa térmica, mas estava vazia. “Não concordei com o pagamento e procurei outro quiosque”.

O proprietário do Kiosk Pantai, que pediu para não ter o nome divulgado, confirmou a cobrança da caução. “Quando o cliente chega com caixa térmica, solicitamos que não consumam suas bebidas em nosso quiosque. A cobrança evita que eles fiquem o dia inteiro ocupando nossas mesas sem consumir nada”. Já o proprietário do quiosque Baguari, que também não quis ter o nome revelado, afirmou que faz um “acordo verbal” com os clientes para que não levem caixa térmica.  “Com a cobrança, os clientes têm o retorno do valor em produtos”, justifica.

Em nota, a prefeitura de Ubatuba informou que a cobrança de caução feita pelos quiosques não é permitida. “Ao receber uma denúncia que, caso seja comprovada, a fiscalização oficia ao Ministério Público para aplicação de multa”, diz a nota. Ainda segundo a administração, o uso de mesas é permitido desde que não haja reserva de área. A prefeitura disse já ter notificado os módulos especiais a não fazer reserva de área.

Praias de Ubatuba transformaram-se  em uma “25 de Março”

Os turistas que frequentam as praias de Ubatuba também sofrem com o loteamento da faixa de areia, especialmente, a Praia Grande, a mais procurada nos finais de semana e temporada. Segundo os frequentadores, logo ao amanhecer, diversas tendas são montadas na areia. Nos finais de semana, por volta das 10h, já não há mais espaço para os banhistas instalarem cadeiras de praia. Alguns precisam ficar na água do mar devido à falta de espaço. Aproveitando a situação, diversos vendedores clandestinos oferecem as tendas por R$ 70,00, com “direito” a utilizá-las durante todo o dia.

 Além das tendas, os turistas também disputam espaço com mesas e cadeiras de plásticos, que são disponibilizadas pelos quiosques na areia da praia. Tal prática é proibida desde 2009, por determinação judicial. Os equipamentos somente podem ser colocados na areia se algum cliente solicitar. E, ao ser desocupadas, as mesas e cadeiras devem ser recolhidas. Os equipamentos, porém, são permitidos no interior dos quiosques.

O comércio ilegal transforma a Praia Grande em uma espécie de rua 25 de Março, tradicional reduto de comércio popular da capital São Paulo, segundo os frequentadores. Ambulantes comercializam todo tipo de produtos e os diversos carrinhos espalhados pela praia fazem lembrar os boxes das galerias da famosa rua. Há também venda de produtos alimentícios, com procedência duvidosa e sem nenhum tipo de higiene e péssimas condições de manipulação. São centenas de vendedores que percorrem a areia, vendendo queijos tipo coalho, espetinhos de churrasco, churros e espetinhos de camarão.

Um dos ambulantes, Paulo Mendes Pereira, 53 anos, vende espetos de carne, frango e camarão há sete anos e fatura em torno de R$ 360,00 por fim de semana. “Me preocupo bastante com a higiene. Todo dia limpo a churrasqueira portátil”, disse ele, apontando para uma lata de tinta que foi transformada em churrasqueira. Apesar disso, ele calçava chinelos, não vestia avental e não usava luvas. “Só hoje que esqueci de trazer”, justificou. “Minha esposa que produz os espetinhos, ela já trabalhou em cozinha de restaurante”.

A prefeitura informou que conta com um setor de fiscalização de postura, com o apoio da Guarda Civil Municipal – que tem o poder de fiscalização, e que conta com apoio da Polícia Militar. A prefeitura não informou, após ser questionada, se a Vigilância Sanitária também realiza fiscalização aos comerciantes que vendem produtos alimentícios e se já houve apreensões ou multas.

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