ELEIÇÕES

Mulheres realizam ato contra Bolsonaro em Bertioga

Jovens, idosas e alguns homens fizeram um alegre pedágio na entrada da cidade para protestar pacificamente contra o candidato do PSL à presidência da República

Estela Craveiro
Publicado em 29/09/2018, às 19h40 - Atualizado em 23/08/2020, às 17h33

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Ato do movimento Mulheres Contra Bolsonaro em Bertioga - Estela Craveiro/JCN
Ato do movimento Mulheres Contra Bolsonaro em Bertioga - Estela Craveiro/JCN

No fim da tarde deste sábado, 29, em Bertioga, cerca de 60 pessoas reuniram-se para o ato do movimento Mulheres contra Bolsonaro, com o tema #Elenão, na principal entrada da cidade, próximo ao cruzamento da avenida 19 de Maio com a rodovia Rio-Santos.

Com cartazes e bexigas nas cores lilás e roxo, os participantes, em maioria do sexo feminino, deslocaram-se da esquina do restaurante Kostelão Grill para a frente do Receptivo de Turismo e acabaram fazendo uma espécie de pedágio na faixa de travessia ali existente.

Em consonância com a atmosfera de leve algazarra, os ocupantes dos carros, motos, ônibus e bicicletas que passaram por ali seguiram indiferentes, em maioria. Com gestos e gritos, alguns se manifestaram a favor de Bolsonaro, e uma quantidade maior alegremente mostrou apoio ao ato com gestos e gritos.  

O protesto foi realizado mesmo no gogó, com o auxílio de um megafone instalado sobre uma bicicleta, simplesmente aos gritos de "ele não", e cantoria de uma paródia da música Bella Ciao, conhecida por ser parte da trilha da série espanhola La Casa de Papel, da Netflix, mas criada para ser hino de resistência ao fascismo de Benito Mussolini, por ocasião da Segunda Guerra Mundial.

A manifestação ocorreu de forma pacífica, apesar da provocação de alguns bolsonaristas, que, do outro lado da avenida, sacaram bandeiras, trouxeram um carro com volume de som muito mais alto que o megafoninho das moças, e despejaram músicas da campanha eleitoral do presidenciável Jair Bolsonaro.

Felizmente, deu em nada. Os participantes do ato contra o candidato não reagiram, e continuaram a se manifestar por cerca de mais 40 minutos. Depois, caminharam por um quarteirão em direção ao Centro e se dispersaram.

No mundo e no Brasil

O ato Mulheres contra Bolsonaro em Bertioga foi só mais um entre os realizados neste sábado em mais de 60 cidades de mais de 20 países e em 26 estados brasileiros, além da capital federal. A ideia de entrar no movimento em Bertioga surgiu em conversa entre amigas, na terça-feira, 25, sobre como participar da manifestação nacional marcada para o dia 29,  conta a professora de arte Camila Manfrinato.

O objetivo, diz ela, foi chamar a atenção para que as pessoas estejam ligadas no que acontece ao redor delas: “A gente está descontente com as propostas e, principalmente, com as falas desse candidato”.

Uma das amigas do grupo criou o evento no Facebook, pelo qual cerca de 100 pessoas manifestaram interesse. Também usou-se grupo no aplicativo de conversa Whatsapp, mas apenas para comunicação entre a organização e algumas formadoras de opinião, que espalharam a notícia entre pessoas de seus relacionamentos.

Mulheres jovens foram maioria entre os participantes que compareceram ao evento, mas havia pessoas de meia idade e a participação de mulheres idosas chamou a atenção. Também houve presença de homens, mas bem menor do que a do sexo feminino, e, curiosamente, a maioria dos que foram consultados não se dispuseram a dar entrevista para o Costa Norte.

Confira as razões de algumas pessoas para participar do ato contra Jair Bolsonaro, candidato do PSL à presidência da República.

Por que você está aqui? 

Marli de Andrade, 74 anos, professora de história aposentada: “Porque a mulherada tem que gritar. A gente está vivendo um momento extremamente delicado no país, com a possibilidade de um retrocesso sem tamanho. Como eu já vivi isso em 1964, não quero viver novamente, e também não quero que as gerações futuras passem por aquilo que eu já passei”.

Marta de Castro Alves Bichir, 19 anos, estudante de psicologia: “Porque acho que a luta política é muito importante, principalmente contra um candidato como ele, extremamente machista, homofóbico e racista. As pessoas dizem que é uma nova proposta. Não acho que nada disso seja novo. Só estava escondido dentro das pessoas, que, na verdade, viram nele a oportunidade de mostrar esse lado delas”.

Lena Lauvs, 62 anos, historiadora: “Porque sou feminista, sou historiadora, tenho formação em sociologia, tenho obrigação com a população do lugar em que eu estiver. Se eu estivesse no Canadá, eu lutaria lá; se  estivesse em São Paulo, lutaria lá. Estou em Bertioga, luto aqui”.

José Claudio Alves, 58 anos,  advogado: “Porque sou contra um candidato que possa representar perigo à nossa sociedade. Eu não acho que ele seja uma pessoa adequada para ser nosso comandante. É contra as mulheres, contra todos os segmentos. O homem, como a mulher, como o gay, tanto faz, qualquer pessoa tem que ter liberdade de expressão. Ele está tentando, de uma forma que entendo errada, impor a vontade dele. Ele não quer que as pessoas sejam da forma que elas entendam que seja melhor para elas. Ele quer que as pessoas sigam uma linha que ele acha adequada. Ele tem princípios nazistas”.

Emílio Lisboa, 18 anos, estudante de odontologia: “Porque estou querendo passar informação para muita gente desinformada, passar um pouco do nosso pensamento. Ele não!”.

Carolina das Neves Santos, 26, estudante de biologia marinha: “Porque, apesar de não acreditar nesse sistema que a gente vive atualmente, acho importante a gente lutar contra qualquer ameaça ao nosso direito de nos expressarmos, de sermos quem somos, contra o ódio, a misoginia, a homofobia e todo tipo de preconceito”.

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