LENDAS URBANAS

Mistérios de Praia Grande: descubra mais histórias intrigantes da cidade

Uma estátua baleada, um OVNI de 30 metros e um leão em pleno cenário praiano são alguns dos “causos” de Praia Grande, que você vai conhecer agora

Esther Zancan
Publicado em 18/03/2024, às 15h21 - Atualizado às 15h48

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Orla de Praia Grande na década de 1970 - Acervo Claudio Sterque
Orla de Praia Grande na década de 1970 - Acervo Claudio Sterque

Você conferiu aqui, no Portal Costa Norte, em janeiro desse ano, por ocasião do aniversário de 57 anos de emancipação político-administrativa de Praia Grande, uma reportagem especial sobre alguns mistérios sobre a cidade. Uma casa mal-assombrada, um refúgio de sereias, estátuas que mudavam de lugar… Mas não são apenas essas lendas urbanas que circulam pela cidade. O que não falta em Praia Grande são boas histórias. Para provar isso, selecionamos mais alguns “causos” bem intrigantes da cidade. Ficou curioso? Então,  embarque nessa viagem com a gente.

Netuno baleado

A estátua de Netuno, localizada na orla da praia do bairro Cidade Ocian, com certeza é um  dos pontos turísticos mais emblemáticos de Praia Grande. Mas o que quase ninguém sabe é que o Deus dos Mares já foi vítima de uma bala perdida. O historiador praia-grandense Claudio Sterque contou como aconteceu o inusitado incidente.

No final dos anos de 1970, o entorno da estátua servia como ponto de encontro, no qual as  pessoas se concentravam para beber e conversar. Devido a essa movimentação, equipes do Exército e da cavalaria da Polícia Militar surgiam, de vez em quando, para impor a ordem. Só que essas abordagens policiais começaram a atrapalhar as atividades de uma pequena barraca de frutos do mar, pois espantava os clientes. Um dia, cansado dessas batidas próximas à estátua, o dono da barraquinha sacou um revólver calibre 38 e efetuou um disparo, que acertou em cheio o lado direito do peito do Netuno. 

Segundo Sterque, o comerciante,  já falecido, se arrependeu de seu rompante de raiva. Já a estátua exibe até hoje a marca do disparo, como é possível observar na imagem abaixo. 

Imagens da estátua de Netuno de PG
Apesar do "ferimento", Netuno segue firme e forte na orla da praia do bairro Cidade Ocian - Turismo Praia Grande/Hebe Dorado

OVNI na Fortaleza de Itaipu

Era novembro de 1957. Praia Grande ainda fazia parte da cidade de São Vicente. Nessa ocasião, a Fortaleza de Itaipu, localizada no atual bairro Canto do Forte, recebeu uma visita do “outro mundo”. Relatos contam que, por volta de 2 horas da manhã, do dia 4 de novembro daquele ano, dois sentinelas avistaram um OVNI (objeto voador não identificado), de cerca de 30 metros de diâmetro e intensa luminosidade alaranjada, sobrevoando a instalação militar. O objeto desceu um pouco mais e começou a emitir um forte zumbido e uma onda de calor, em direção aos soldados. Suas fardas ficaram queimadas e seus gritos de horror despertaram o restante dos militares da fortaleza, que chegaram a testemunhar o estranho objeto se afastar no céu. 

Ainda de acordo com esses relatos, os dois sentinelas foram socorridos e apresentavam queimaduras graves. O comandante da Fortaleza de Itaipu teria ainda enviado uma mensagem ao quartel-general do Exército. O auxílio dos Estados Unidos também teria sido solicitado, e oficiais da U.S. Air Force teriam chegado a ir até Praia Grande. Como quase todo episódio ufológico, esse também é envolto por muito mistério e, até hoje, não se sabe exatamente o que ocorreu e segue sem uma explicação lógica. 

Pórtico de entrada da Fortaleza de Itaipu
O que será que o tal OVNI queria na Fortaleza de Itaipu? - Turismo Praia Grande

Leão da Vila Sônia

Sim, é isso mesmo que você leu. Um leão, o felino conhecido como o “rei da selva”,  já morou em Praia Grande. Claudio Sterque conta em seu e-book  Aconteceu em Praia Grande - Volume I, a curiosa e triste história de Timbó, um leão de circo. Entre as décadas de 1950 e 1970, era comum a passagem de pequenos circos pelas vilas de Praia Grande. Naquela época, esses circos ainda contavam como uma de suas grandes atrações, a exibição de animais selvagens. Não é difícil imaginar que essas trupes circenses não possuíam recursos suficientes para alimentar um leão, que consome, em média, oito quilos de carne por dia.

Relatos de antigos moradores contam que os circos faziam uma espécie de trato com a criançada do bairro no qual se apresentavam: para cada cão ou gato trazido para alimentar os animais, um ingresso seria disponibilizado. Tal troca fazia com que os tutores, logo que um circo se instalasse na região, corressem para prender seus animais domésticos.

Mesmo com essa troca macabra, ainda não era fácil manter um leão. É aí que começa a história de Timbó, o “leão da Vila Sônia”. Ele foi resgatado de um pequeno circo, quando tinha apenas 10 meses de idade, em uma situação deplorável. Segundo Sterque, o proprietário de um restaurante em São Vicente resolveu adotá-lo e o levou para sua chácara, localizada no bairro Vila Sônia. Timbó foi acomodado em uma antiga cocheira de cavalos. Moradores relataram a estranha sensação que era ouvir os rugidos de Timbó em plena Praia Grande, em um bairro que, naquela altura, já contava com diversas residências. Mas a saga de Timbó não terminou aí. 

Na década de 1990, o dono da chácara na qual Timbó vivia teve que vendê-la, mas impôs, como condição, continuar a alimentar o leão diariamente, até que um novo abrigo para o animal fosse providenciado. Só que, certo dia, sua entrada para que Timbó recebesse a alimentação foi proibida. Mal alimentado, o felino emagreceu rapidamente. Seu tutor denunciou o fato para as autoridades e para a imprensa, e a Justiça acabou por determinar que o leão fosse transferido para um santuário de animais no interior paulista, o que lhe deu a oportunidade de viver seus últimos anos em condições dignas. 

Timbó, o leão da Vila Sônia
Timbó no ano de 1993 - Fernando Feijó/Acervo Claudio Sterque

Baleia fake

Essa história vem lá do fundo do baú e prova que fake news não surgiram recentemente. Sterque conta também, em seu e-book, que, no início dos anos de 1940, Praia Grande, que ainda era um bairro de São Vicente, tinha aproximadamente 2 mil habitantes, que viviam em  pequenos sítios. As atividades econômicas eram a pesca e plantações, principalmente. Mas diante deste cenário ainda tão inóspito, um homem acreditou no potencial turístico daquele lugar. 

Antonio Augusto de Sá Lopes requereu uma linha de ônibus regular vinda de Santos, e que seria a pioneira no transporte público até Itanhaém. Com partida do Gonzaga, em Santos, o início se mostrou difícil, afinal,  poucos tinham interesse em conhecer Praia Grande. O máximo que os turistas arriscavam era conhecer a ponte Pênsil, em São Vicente. Nesses anos, grande parte dos turistas que procurava Santos, se concentrava no Gonzaga. Foi daí que Antonio teve uma ideia um tanto mirabolante. Ele chamou um garoto e pediu que ele se aproximasse dos turistas e dissesse que havia uma grande baleia encalhada em Praia Grande. Na sequência, dizia que o ônibus para lá sairia em poucos minutos.

E não é que deu certo? O ônibus, uma jardineira, saiu lotado rumo a Praia Grande. Já na cidade, a explicação que Antonio dava aos turistas é que a tal baleia poderia ter sido levada de volta ao mar, devido à maré alta. Em seguida, ele propunha aos turistas acompanharem a tradicional pesca de arrasto, com o auxílio de bois, este sim, um cenário típico de Praia Grande naqueles tempos. 

Pesca de arrasto com bois
Bois eram usados para puxar as redes de pesca em Praia Grande - Banco de Imagens Prefeitura de Praia Grande

Os turistas, a essa altura, já estavam fascinados pela extensão e vegetação ainda intocada de Praia Grande, e nem davam muita importância para a tal baleia. Os bois que puxavam as redes lotadas de peixes, no Boqueirão e no Canto do Forte, passaram a ser a atração que  a todos surpreendia. Sterque lembra que, com as viagens lotadas, a Sul Praiana, empresa fundada por Antonio, logo se tornou a maior permissionária de linhas regulares do litoral sul paulista. Tempos depois, Antonio vendeu as linhas para a empresa Breda, que as explora até os dias atuais. 

Jardineira dos anos 40
A história da "baleia fake" começou a atrair turistas para Praia Grande - Arquivo família Sá/Acervo Claudio Sterque

Morro “meteorologista”

E, para fechar essa seleção de “causos”, esse é daqueles bem com jeitão de lenda urbana, mas que tem sua ponta de verdade. Os moradores há mais tempo em Praia Grande acreditam que o imponente morro Xixová, localizado no Parque Estadual Xixová-Japuí, na divisa entre Praia Grande e São Vicente, tem seu lado “meteorologista”. Ele é conhecido como um “barômetro natural”. Funciona assim: se o cume do Xixová estiver encoberto pelas nuvens, pode apostar - vem chuva por aí.

Morro Xixová, em Praia Grande
O imponente morro Xixová ao lado do seu "irmão", o morro Japuí - Esther Zancan

A verdade é que, quem tem a chance de observá-lo diariamente, percebe que a taxa de acertos do Xixová é bem alta, o que faz crer que essa fama não é tão fantasiosa assim. A vocação meteorológica do morro auxilia tanto moradores quanto turistas, pois, se há nuvens em seu topo, é sinal que é melhor levar um guarda-chuva na bolsa ou, para quem está na praia e não quer enfrentar intempéries, começar a levantar acampamento. 

Cume do Xixová encoberto
Cume do Xixová encoberto? Ih! Corre que lá vem chuva - Esther Zancan

Esther Zancan

Esther Zancan

Formada pela Universidade Santa Cecília, Santos (SP). Possui experiência como redatora em diversas mídias e em assessoria de imprensa.

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