DEVOÇÃO

Romeiros de Ilhabela: histórias de superação e fé em Nossa Senhora Aparecida

O idealizador do grupo com 140 integrantes é um sobrevivente da Covid-19, que em 2020 chegou a ficar em coma com 98% do seu pulmão comprometido

Gabriela Petarnella
Publicado em 13/10/2023, às 17h32

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O grupo enfrentou uma batalha de 22 horas e 72 km percorridos - Grupo dos Romeiros de Ilhabela
O grupo enfrentou uma batalha de 22 horas e 72 km percorridos - Grupo dos Romeiros de Ilhabela

"Minha fé é inabalável": conheça algumas das histórias dos Romeiros de Ilhabela, um grupo criado em 2021, que hoje conta com 140 pessoas com diferentes batalhas em busca de cura, vitórias, além de muita fé em Nossa Senhora Aparecida.

O idealizador do grupo é João Paulo de Souza e sua história é uma verdadeira jornada de fé e superação que tocou o coração de muitos. Em 2020, João Paulo enfrentou um momento de extrema dificuldade, lutando contra a COVID-19. Com 98% de seus pulmões comprometidos, ele chegou a ficar entubado no Hospital Regional de Caraguatatuba.

Amigos e familiares, em um ato de esperança, pediram a Deus e à intercessão de Nossa Senhora Aparecida por um milagre e este milagre aconteceu. João sobreviveu e quando acordou do coma, suas primeiras palavras marcariam a todos: "minha fé é inabalável". De acordo com sua esposa, Cíntia Barbosa, isso reforçou a crença da família de que, por meio da fé e da perseverança, os milagres acontecem no tempo de Deus.

João Paulo e sua esposa, em um gesto de gratidão, decidiram cumprir a promessa à Nossa Senhora por meio da romaria. O grupo inicialmente contava com cerca de 50 pessoas, todos com um objetivo comum: expressar sua devoção e agradecimento pela graça recebida pela santa.

Já em 2023, o Grupo de Romeiros quase triplicou o número de participantes, atraindo aproximadamente 140 pessoas dispostas a percorrer os 72 km entre São José dos Campos e Aparecida do Norte, conhecido como o Santuário Nacional da Padroeira do Brasil. Durante o ano, o grupo se prepara com encontros mensais que incluem orações e caminhadas em diferentes horários do dia para uma preparação física e espiritual.

Para os romeiros, a caminhada é uma forma de sacrifício em gratidão, amor e fé, manifestados por meio de orações e reflexões. Enquanto percorrem o trajeto, meditam, oram, refletem e se conectam espiritualmente. Eles também compartilham suas histórias, misérias e alegrias com outros peregrinos, todos unidos pela fé.

Além de João Paulo, outras histórias de promessa e superação são igualmente tocantes. Rafaela Peres, cabeleireira especialista em terapia capilar e tecnóloga em estética e cosmética de Ilhabela, também compartilhou sua experiência.

Sua promessa foi feita em 2017, quando o pai sofreu um infarto e ficou em estado vegetativo por cinco meses. A busca desesperada por uma vaga na UTI estava muito difícil, até que ela, apesar de não ser devota de Nossa Senhora na época, começou a orar por ajuda divina. Uma reviravolta milagrosa aconteceu, e seu pai conseguiu a tão esperada vaga na UTI.

“No momento em que soube, estava fora do hospital, no frio, quando a enfermeira me autorizou vê-lo. Na ida até o quarto parecia que eu não enxergava nada, entrei por um caminho que em cinco meses naquele lugar, nunca mais eu achei. Subi alguns lances de escada, até que me deparei com uma parede imensa com a imagem de Nossa Senhora Aparecida. Ali eu entendi tudo e quando encontrei meu pai, mesmo desacordado, fiz essa promessa de ir a pé até o santuário”, contou emocionada.

Desde então, ela não tinha tido oportunidade ainda de pagar a promessa que fez, até que em agosto de 2022, Rafaela sofreu um grave acidente em casa onde teve, entre outras lesões, quebra nos pés e deslocamento de quadril. Sua fé foi o que a ajudou a superar o período de dor. Sem poder trabalhar, passou por momentos difíceis como, quando dependeu de doações para se alimentar. Mas comovida com a generosidade dos amigos, manteve sua crença acima dos problemas.

Decidida a cumprir sua promessa, com pouco mais de um ano desde o acidente e já levando a vida normalmente, mas ainda em processo de recuperação, ela juntou-se ao grupo de romeiros de Ilhabela, mesmo contra as indicações médicas de suas duas fisioterapeutas, que temiam as consequências do esforço físico. A caminhada de 72 km a Aparecida foi um desafio com muito calor, muita dor no corpo e nos pés, mas, fortalecida por sua fé, Rafaela conseguiu.

“Em nenhum momento pensei em desistir. Mesmo com os riscos, entreguei a minha cura nas mãos de Nossa Senhora e quando retornei com as fisioterapeutas eu tive a resposta. As duas enxergaram nos exames uma melhora, tanto em um calo ósseo que tinha no pé esquerdo, quanto na mobilidade dos dois pés que aumentou”, ressaltou.

Imagem com romeiros de Ilhabela no momento da chegada em Aparecida
Rafaela chegou ao destino com muitas dores, de chinelo, mas não desistiu - Rafaela Peres

Ela conta que não se preparou antecipadamente para a jornada e que mesmo após toda essa batalha, não teve descanso. No dia seguinte, às 6h30 da manhã, ela já estava em seu salão atendendo clientes para um casamento de uma grande amiga, e que fez questão de ainda participar da cerimônia, em consideração e gratidão. Mas afirma que tudo valeu a pena e que em 2024 ela vai estar na caminhada de novo.

A história de Rafaela e de João Paulo de Souza, juntamente com a de outros membros do Grupo de Romeiros, é uma demonstração de devoção, milagres, superação e crença inabalável. Cada passo dado nessa jornada, segundo contam, é uma manifestação de gratidão e amor pela divindade e um testemunho da capacidade de superar adversidades com a ajuda da fé.

O Grupo de Romeiros de Ilhabela continua a crescer e a inspirar aqueles que buscam uma conexão mais profunda com o sagrado. “É gratificante ver que a cada dia mais pessoas têm procurado a proximidade com Nossa Senhora, cada um com seu propósito, mas todos unidos pela fé buscando junto a Maria a proximidade com Cristo”, ressalta João Paulo.

E se engana quem acredita que para participar, o único meio é a caminhada. Existe ainda, em meio ao grupo, os devotos que fazem a jornada como apoio aos romeiros. Estes, fazem a viagem de carro, acompanhando a caminhada, servindo água, comida, abrigo do sol, equipamentos, ajuda na hora da dor e do cansaço.

De acordo com Rafaela, este grupo oferece ainda mais do que apoio, oferece amor ao próximo, acolhimento e amparo e essa é, sem dúvid mais uma forma de não perder a perseverança de concluir o trajeto. E neste momento, muitas histórias se cruzam e se unem em torno de um só objetivo: a devoção.

Gabriela Petarnella

Gabriela Petarnella

Jornalista formada pelo Centro Universitário Módulo. Possui experiência em videorreportagem e fotojornalismo

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